quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Entrevista: Cabbet Araújo

O produtor Cabbet Araújo tem um importante papel de articulação cultural no Morro dos Cabritos/Tabajaras, em Copacabana. Em parceria com moradores da comunidade, criou o Círculo Cultural Abraço da Paz, evento que prevê a realização de atividades de arte e cultura na Ladeira dos Tabajaras e seu entorno. Além disso, está recuperando um prédio abandonado da comunidade, o Lajão, para torná-lo um espaço cultural permanente na favela. Vale a pena conferir as suas impressões sobre o projeto Intercâmbios Juventudearte.


Como vê um projeto de mapeamento de iniciativas culturais em uma comunidade como o Cabritos/Tabajaras?

É muito importante, principalmente por dar oportunidade de os jovens da própria comunidade participarem. O resultado final vai refletir o que eles mesmos vêm apresentando no decorrer do processo de criação do mapa. É um incentivo maravilhoso.

De que forma um mapeamento como esse poderá promover transformações na vida dos jovens envolvidos?

Esse projeto mexe muito com a auto-estima da comunidade. Eles estão falando com o avô de fulano, o diretor da escola, o dono do bar... É um trabalho feito por esses jovens que vai circular em várias esferas.  A comunidade está passando por um momento de possibilidades. Os jovens precisam se antenar de que esse momento tem que ser abraçado por eles. Esse projeto incentiva que os jovens tenham vontade de participar de projetos futuros.

E como vê a proposta de interação entre jovens de diferentes comunidades?

Eu tenho conversado com os jovens do Cabritos/Tabajaras envolvidos no projeto e eles estão gostando muito. Falaram das novas amizades que estão fazendo e de possíveis intercâmbios de experiências culturais nesses territórios.


Você é um importante articulador de iniciativas culturais no Cabritos/Tabajaras. Como surgiu a possibilidade de viabilizar um espaço como o Lajão?

Nós apresentamos e tivemos 10 projetos aprovados em edital do Pronasci - Microprojetos Mais Cultura. Em vez de pagarmos aluguel para viabilizar esses projetos, tiramos 500 reais de cada um para investir na reforma de um espaço dentro da comunidade, que é o Lajão.

São as pessoas da comunidade que estão se unindo para tornar esse espaço possível. Estamos conseguindo também a adesão de empresários, que visitaram e gostaram do lugar.

Nesse último encontro do projeto, os jovens da comunidade fizeram questão que fosse realizado no Lajão. Eles querem afirmar o espaço, trazer os parceiros. O Lajão é o nosso ponto, o nosso lugar de atividades.


Além de seu envolvimento com a iniciativa de tocar esse grande projeto que é o Lajão, que outras iniciativas toca na comunidade?

Tem o Abraço da Paz, que é uma iniciativa mais agressiva, pontual, de incursão cultural na comunidade. Começou em 2009, depois do massacre que houve no Tabajaras. Desde então, não consegui mais parar de fazer.
Existem muitas ações culturais no Cabritos/Tabajaras?

Acho que ainda existem poucas ações culturais. A UPP [Unidade de Polícia Pacificadora] não pode ser só uma polícia na favela. A UPP já está há dois anos no Tabajaras e a melhoria dos acessos à favela ainda não foi feita. Quando esses acessos forem facilitados, acho que ocorrerão muito mais iniciativas culturais. É preciso que os acessos sejam mais convidativos. A vida toda a favela foi vista como lugar de bandido. Favela não é lugar de bandido, isso não é verdade. Bandido tem em todo o lugar. Foi o estado que nos proporcionou essa visão.

Fotos: Divulgação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário