segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Futuros possíveis desdobramentos para mapa cultural de comunidades do Rio

A Agenda Cultural da Periferia é uma publicação mensal idealizada pela organização não governamental Ação Educativa. A iniciativa surgiu há um pouco menos de cinco anos para preencher uma lacuna – a falta de divulgação pelos grandes meios de comunicação de iniciativas culturais que ocorrem na periferia de São Paulo. Guias culturais de grandes jornais como a Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo acabam por fornecer informações que privilegiam atividades e grupos que se apresentam na parte mais abastada da cidade. A editora da Agenda, Elizandra Souza, e o coordenador editorial da publicação, Eleilson Leite, estiveram presentes no último encontro do Projeto Intercâmbios Juventude Arte, realizado no último sábado, 10 de dezembro, para dialogar com os jovens participantes do projeto sobre como o mapeamento cultural das comunidades dos Cabritos/Tabajaras (Copacabana), Providência (Centro) e Salgueiro (Tijuca) que realizaram pode se desdobrar em outras ações.


Como surgiu a ideia de criar a Agenda Cultural da Periferia?

Antônio Eleilson Leite: Desde 2005 eu tinha vontade de mostrar o que a periferia faz em termos de arte e cultura, porque os principais guias culturais de São Paulo não divulgam essas informações. Até hoje esses guias não mostram as ações da periferia. Então, recebemos patrocínio para fazer um mapeamento de ações culturais na periferia de São Paulo. No final do processo, em vez de publicar um mapa cultural, optamos por criar e publicar três edições da Agenda Cultural da Periferia. Inicialmente, tínhamos recursos apenas para essas três edições, mas nunca mais paramos de fazer, até os dias de hoje.  As primeiras edições contaram com cerca de 40 eventos divulgados. Quatro, cinco meses depois havia 80 eventos.

Qual a importância de uma iniciativa como essa?

Antônio Eleilson Leite: Mostrar que a cidade é muito mais do que o centro expandido. Alargar o sentido de cidade. O último guia da Folha de São Paulo divulga 220 peças de teatro. Não há sequer divulgação de peça em São Bernardo do Campo, que é o 10º orçamento da União. A visão do circuito cultural é muito estreita.

Quais têm sido os principais frutos desse trabalho?

Elizandra Batista de Souza: O registro das atividades que ocorrem na periferia tem promovido troca entre os grupos. A publicação tem sido fomentadora de redes. Outra coisa que tem ocorrido é o aumento de interesse por divulgar atividades na Agenda.  Não damos conta de divulgar tudo o que aparece. Muitas das atividades que não conseguimos publicar na Agenda da Periferia impressa vão para o site. Fora isso, estamos divulgando a Agenda por web TV, no portal Catraca Livre, e pela rádio web de Heliópolis, uma das maiores favelas com 140 mil habitantes.

Antônio Eleilson Leite: A Agenda da Periferia tem servido como portfólio para muitos dos grupos que são divulgados por ela. Existe um edital chamado VAI – Valorização de Iniciativas Culturais da Secretaria Municipal de São  Paulo, voltado para grupos de juventude de periferia e muitos que concorrem a esse edital anexam a Agenda.


A Agenda circula mais entre pessoas da própria periferia ou outros públicos também têm acesso?

Elizandra Batista de Souza: O foco principal é a periferia. A maior parte da tiragem é distribuída nos próprios eventos que divulga. 8 mil exemplares vão para a periferia e 2 mil para o Centro de São Paulo, em locais onde grupos de periferia estão se apresentando. Há uma seção na publicação chamada A Periferia no Centro.

Antônio Eleilson Leite: Hoje temos uma tiragem de 10 mil exemplares, se tivéssemos 30 mil, distribuiríamos tudo. Existem 55 bibliotecas públicas. Distribuímos apenas em 10 localizadas mais na rota da periferia, por conta da tiragem. E existem 44 Centros de Educação Unificada na periferia, o CEU. Não temos atualmente como distribuir para todos.

E depois que a Agenda começou a ser publicada, os grandes meios de comunicação passaram a divulgar mais iniciativas da periferia?

Antônio Eleilson Leite: A mídia toma conhecimento de tudo o que está ocorrendo. O que ocorre é, quando aparece muita ocorrência de sarau ou roda de samba na Agenda, vemos a publicação de uma matéria sobre o assunto na mídia. Mas não há divulgação de um evento específico.

Quais os desafios futuros para a Agenda Cultural da Periferia?

Elizandra Batista de Souza: A expansão. Aumentar o número de páginas, a equipe. Poder incluir matérias. Transformar a agenda em uma revista. Tem muito a fazer ainda. Poderíamos divulgar Hardcore. Tem bastante rock de periferia. Eles nunca procuraram a gente e a limitação de equipe impede que a gente vá buscar informações nessa área. O mesmo ocorre com o Forró, o Funk. Tem para onde expandir ainda mais. E também temos consciência que a periferia é muito diversificada, é um prisma cultural que queremos atingir, mas é desafiador.

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