quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Entrevista: Denise Francisca de Oliveira Santos

O deslocamento de retina que, em um primeiro momento, teria afastado Denise apenas temporariamente do emprego, acabou por fazer com que alterasse definitivamente o rumo que seguia até então. Moradora do Salgueiro, favela na Zona Norte do Rio, ela trabalha para o fortalecimento cultural da comunidade. Entre as iniciativas que desenvolve estão aulas de capoeira e a criação da primeira biblioteca comunitária na localidade. Denise esteve presente no 7º encontro do Projeto Intercâmbios JuventudeArte, no último sábado, 12 de novembro, contribuindo para a conclusão do mapeamento cultural do Salgueiro desenvolvido por jovens da comunidade.




O que acha de uma iniciativa de mapeamento de atividades culturais no Salgueiro?

Denise Francisca de Oliveira Santos: É uma boa iniciativa. Ajuda as pessoas que vivem no Salgueiro a conhecer melhor a comunidade e pode incentivar que pessoas de fora visitem a localidade. O mapeamento está muito interessante, focado nas questões da comunidade, sua história, seus pontos turísticos. 

Já soube de iniciativas parecidas com essa?

Denise Francisca: Eu tenho dois mapas do Salgueiro, mas o foco deles são as áreas de risco. É bem diferente, não? Quando há previsão de chuva forte, a Defesa Civil entra em contato comigo para que eu alerte as pessoas que vivem em áreas de risco para que saiam de suas casas e vão para o ponto de apoio, que é a quadra.

Depois de publicado, o que a comunidade poderá fazer para que o mapa seja potencializado?

Denise Francisca: Os jovens envolvidos no projeto levantaram vários pontos. Eu acho que para o Salgueiro entrar na rota de visitação  é necessário mostrar mais a sua história. As pessoas mais antigas têm muitas informações, os jovens podem se inteirar mais, saber mais coisas da comunidade onde vivem. Como explicar os nomes das localidades dentro do Salgueiro? Por que determinada localidade antes era denominada Pedacinho do Céu, por exemplo? O que hoje é o Bar do Cisne, um dos pontos levantados, antigamente era onde a nata do Salgueiro se reunia para compor os sambas. Mostrar a nossa história é muito importante para fortalecer esse mapa.

Você tem um papel importante no fortalecimento da cultura no Salgueiro. Entre as atividades que desenvolve estão aulas de capoeira.

Denise Francisca: Há mais ou menos 10 anos comecei a dar aula de capoeira. Eu dava aula, mas também trabalhava fora, como cobradora de ônibus.  Fui afastada por causa de um deslocamento de retina, que fez com que perdesse uma vista. Nesse período de afastamento, passei a observar mais a comunidade. Um dia, em casa, escutei duas crianças conversando. Uma delas disse que queria ser a polícia, para prender os bandidos. E a outra disse: “Mas é muito melhor ser o bandido”. Pensei que precisava fazer algo para mudar aquela realidade. O meu problema na vista fez com que eu passasse a ver a vida de forma diferente. A partir disso, comecei a montar uma biblioteca comunitária e intensifiquei as aulas de capoeira.

E a biblioteca é muito visitada?

Denise Francisca: Não existia nenhuma biblioteca no Salgueiro. As crianças e adolescentes até 15 anos visitam. Recebemos cerca de 50 visitas ao mês. Temos mais ou menos 2 mil livros, de literatura, ensino fundamental e médio, direito, administração. Os livros vêm através de doações dos moradores, de bibliotecas, do Wal Mart.  Já temos muitos livros do ensino fundamental, mas outras publicações são muito bem vindas.

Mais informações: dedecapoeira@yahoo.com.br.

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